quarta-feira, 8 de julho de 2009

Glauco Malttoso

Biografia de Glauco Malttoso

Glauco cursou biblioteconomia na [[Escola de Sociologia e Política de São Paulo]] e letras vernáculas na USP. Nos anos 70, participou da resistência cultural à ditadura militar através do grupo dos "poetas marginais". Além de editar o fanzine poético-panfletário Jornal Dobrabil (trocadilho com o Jornal do Brasil e o formato dobrável dos folhetos satíricos), colaborou em diversos períódicos da imprensa alternativa, tais como o tablóide gay Lampião e o humorístico O Pasquim.

Na década de 80, publicou trabalhos em revistas como Chiclete com Banana, Tralha, Mil Perigos, SomTrês, Top Rock, Status e Around, ensaios e críticas literárias no Jornal da Tarde, além de diversos volumes de poesia e prosa. Em 1982, edita a Revista Dedo Mingo, como um suplemento do Jornal Dobrabil.

Nos anos 90, perde por completo a visão em decorrência do glaucoma de que sofria há anos. Deixa de lado a criação gráfica (história em quadrinhos e poesia concreta) e passa a dedicar-se a escrever letras de músicas e à produção fonográfica. Com o professor da USP Jorge Schwartz, ganha o Prêmio Jabuti pela tradução que ambos fazem da obra inaugural de Jorge Luis Borges, Fervor de Buenos Aires.

Nos anos mais recentes, retorna à criação de poesia escrita e textos virtuais, produzindo textos e poesias para a internet, colaborando em revistas eletrônicas e impressas, tais como a Caros Amigos.

OBRAS

PENSO, LOGO CAGO [1977]

Eu não nasci,
pois não me lembro de isso ter acontecido.
Não morri,
pois também não me lembro que isso tenha acontecido.
E, se não nasci nem morri, das duas uma:
ou sou Deus ou não existo.
Ora, como nem tudo que eu quero acontece
e nem tudo que acontece eu quero,
não sou Deus.
Portanto, não existo.
Logo, não penso.
Então este raciocínio é falso,
e nesse caso eu não passo de um mero amnésico.
De qualquer maneira, nada tem importância:
se perco a memória,
tanto faz que tudo seja ou não verdade.
Basta dar a descarga
e passar pro papel.

ROMEU E EU (conto dialético e, ipso facto, poema romântico) [1977]

Eu quero brincar com você.
Papai não deixa.
O Diretor proíbe.
A Esquerda se opõe.

Você me chama
e eu morro de vontade.
Papai me ameaça.
O Diretor me intima.
A Esquerda me aterroriza.

Saio escondido,
procuro por você,
mas eles me acham.
Papai me bate.
O Diretor me põe de castigo.
A Esquerda atenta contra mim.

Fico esperando,
você me procura,
nos encontramos no escuro,
nos pegam em flagrante.
Papai me expulsa.
O Diretor me interna.
A Esquerda me seqüestra.

Escapo e sobrevivo,
mas você não está livre.
É filho de seu Papai.
Disciplinado ao seu Diretor.
Prosélito da sua Esquerda.

Vivo solitário, você prisioneiro,
e não podemos brincar.
Castram nossa infância
porque você é igual a mim,
sua vontade igual à minha,
mas nos fazem diferentes.

QUEM DIABO É DEUS? [1977]

deus não é a antimatéria
deus não é o anticristo
deus não é o caos
deus não é o cosmo
não é um campo magnético
não é um corpo magnífico
não é a voz do povo
não é a paz do papa
deus não é um sapo horrendo
do lodo do brejo nojento
nem o excremento fedorento
mas podia ser
se não fosse aquele garoto
que me deflora a boca
e me degusta a sola
quando trepa comigo.

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